sábado, 22 de dezembro de 2012

Ponto de partida



Em mais um dia noturno de aula no CIEP Gregório Bezerra, localizado no subúrbio carioca da Penha, realizamos uma oficina. Quando coloco "nós" não me refiro apenas ao grupo de pesquisa e extensão, mas também aos educandos da turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos). A proposição da aula/oficina era questionarmos conjuntamente a abertura da educação pública na década de 1920 em uma cidade que estava sendo moldada para ser a grande vitrine nacional da construção da identidade brasileira, Rio de Janeiro.


Quando nos propomos a indagar a proposição da educação fundamental para "todos" nos deparamos com a constatação de que: primeiro, sim! todos entram igualmente na ensino básico; segundo, não! todos não são tratados igualmente; terceiro, é! a diferença entre os indivíduos não valorizada se torna desigualdade e quarto, ihhh! a culpa não é minha.


A culpabilização do sujeito pela sua situação social é algo que trazemos introjetado em nosso pensamento e isso favorece a manutenção do sistema que temos, pois "oportunidade de estudar tivemos, mas não aproveitamos e agora voltamos cheios de vergonha e culpa por não sermos o que deveríamos ser, ou seja, permanecemos ninguém já que a educação te faz ser alguém". Coloco tudo entre as mágicas aspas que me exime de qualquer relação deste pensamento com minha opinião em constante formação, mas até que ponto?.


A ideia da oficina era basicamente seguirmos a trajetória de vida de três indivíduos (enquanto tipos ideais) para analisarmos a suposta culpa do sujeito pelo seu "fracasso escolar". Então seguindo a vida dos sujeitos-exemplos para analisarmos as causas da culpa temos o primeiro individuo filho da classe abastada, a segunda filha da classe media baixa e o terceiro filho da classe baixa e seus "destinos" baseados no mesmo ponto de partida, o ingresso na primeira série do ensino fundamental. Entretanto o mesmo ponto de partida não define o mesmo fado, mas as condições sociais vivenciadas por estes tipos ideais conspiram para suas "escolhas" e sendo assim suas classificações enquanto "alguém na vida" e ninguém".


A conversa que tivemos foi para além do que esta estudante que escreve tais linhas esperava, pois não poderia imaginar o quão rica seria as exposições de ideias sobre a desigualdade social que vivemos e o quanto tais informações puderam ser relacionadas imediatamente com suas biografias e conteúdos escolares. Os educandxs se apresentaram, como queria que fosse e não imaginava que seria, com opiniões criticas sobre a educação e para além do recorte educacional, se perceberam como produtos e produtores (que somos) das condições sociais vividas. Ao darmos outra direção ao nosso olhar nos deparamos com diversas questões que nos fazem permanecer onde e como estamos, assim como a Maria de Milton Nascimento que simboliza uma gente que "não vive apenas aguenta". E ainda usando Maria percebo que estes estudos e ações conjuntas nos fazem não a imagem e semelhança de nada, mas sim uma gente que " traz no corpo a marca" e também " traz na pela essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida". Termino assim então este escrito do carcere social compartilhado por todxs nós e mais uma vez percebo o quanto a troca que estabelecemos em sala de aula é essencial para minha formação como educadora e educanda.



domingo, 2 de dezembro de 2012

"Diversidade na Literatura Infantil: Construindo Novas Identidades". Um relato sobre as oficinas.

Este ano mais uma vez tivemos a oportunidade de apresentar as oficinas na escola da Penha realizada com uma turma da Educação de jovens e adultos (EJA). Como o próprio titulo deixou claro está oficina foi sobre Literatura Infantil. Mas como trabalhar esse gênero textual com EJA? 

Primeiramente destaco aqui que minha oficina foi planejada a partir de minha pesquisa que tem o objetivo geral desta pesquisa é demonstrar que a literatura infantil pode ser um instrumento valioso para realizar um trabalho multicultural, trabalhar a diversidade dentro das escolas. Também tem por objetivo demonstrar que através de um instrumento lúdico como a literatura infantil é possível trabalhar a diversidade dentro da sala de aula, mas não se limitando apenas a ela, como também buscando encontrar materiais para a realização deste trabalho. Destaco aqui que ao planejar esta oficina tanto este ano – 2012 – como no ano de 2011 tive o cuidado ao trabalhar com este recurso de em nenhum momento infantiliza-los.

Assim antes do começo da oficina tive receio que os alunos não participassem, ou se eles iriam responder as perguntas, dando as suas opiniões, pois o objetivo dessa é oficina, estimular a participação, refletir sobre a imagem e a cultura do negro na literatura infantil, compreender a importância de valorizar a cultura afro-brasileira, reconhecer como sujeito construtor de sua história.

Durante toda a oficina os alunos participaram trazendo suas experiências e suas histórias. Ressaltando que um trabalho com uma turma de EJA é sempre uma troca de saberes e que mais uma vez neste ano posso dizer que este ano também aprendi muito com os alunos.

Nas oficinas ao seu quarto e ultimo momento foi entregue aos grupos uma cartolina com um boneco desenhado, eles deveriam escrever dentro dos bonecos palavras que para eles representem suas identidades. E me surpreendeu ao ver que eles não apenas escreveram palavras como fizeram relatos de suas experiências e escreverão até textos no cartaz.

Como minha colega publicou uma vez aqui a realização das oficinas temáticas estão sendo de suma importância para a minha formação enquanto profissional da educação. Aproveito esse espaço para agradecer os professores da escola por concederem o espaço da sala de aula, também a professora Amanda por disponibilizar a escola e buscar sempre estar presente nas oficinas contribuindo com sua experiência e nos auxiliando na realização das oficinas.

Reflexões sobre a Jornada de Iniciação Cientifica e o Congresso de Extensão.



Este ano apresentei meu trabalho no Congresso de Extensão pela segunda vez e pela primeira vez na Jornada de Iniciação Cientifica. O trabalho apresentado foi “Diversidade na Literatura Infantil: Construindo Novas Identidades”.

Dentro da JIC foi apresentada a pesquisa, ainda em andamento, que pretende mostrar a importância do trabalho com a literatura infantil para a implementação da Lei 10.639, que trata do ensino da historia e cultura Afro-brasileira e Indígena. Também pretende demonstrar a importância do trabalho dentro da literatura com a imagem do índio e do negro de forma valorizada, numa perspectiva psicossocial. A partir de um trabalho empírico buscar traçar estratégia para desconstruir algumas ideias construídas dentro da sociedade. Discuti como o negro e o índio aparecem no currículo e como este trabalho pode influenciar a avaliação.

No Congresso de Extensão o foco do trabalho foi apresentar o trabalho realizado pelo PET/ Conexões de Saberes – Diversidade em parceria com o PET/ Conexões de Saberes – Identidade como os Cineclubes e os Dias de Diálogos. E apresentar as oficinas realizadas nas escolas parceiras no ano de 2011. Assim no termino do trabalho foram apresentadas as reflexões sobre os trabalhos realizados.

Para realizar a apresentação na JIC me senti um pouco nervosa já que era a primeira vez que apresentava a pesquisa para pessoas de fora do grupo. Fazendo uma autoavaliação da minha apresentação percebo que fui bem na minha apresentação e gostaria de ter tido um pouco mais de tempo para ter me aprofundado um pouco mais na minha fala sobre a pesquisa. Também aproveito aqui para agradecer mais uma vez a banca que avaliou meu trabalho pelas sugestões para a pesquisa.

Na minha apresentação para o Congresso de Extensão, deste ano, não senti nervosismo na hora de apresentar. Consegui, apesar do pouco tempo, apresentar o meu trabalho no grupo e também destacar o trabalho que o PET/ Conexões de Saberes – Diversidade realisa na Universidade.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Mulheres Negras: Um Debate sobre Raça e Gênero


Nesta ultima quarta, 28 de novembro, foi realizado mais um dia de Diálogos. Contamos com a presença das debatedoras Professora Doutora Anna Marina Pinheiro e Professor Doutora Giovana Xavier. E também com dois conexistas a Elisa do Pet Identidade e o Leonardo do Pet da Biomedicina.

A professora Giovana apresentou sua tese onde ela realisou um levantamento em jornais, nos Estados Unidos em um determinado período histórico, buscando propagandas de produtos para o branqueamento. Apresentando como dentro de uma sociedade excludente para sobreviver muitas vezes é preciso chegar ao de se descaracterizar.

A professora Anna Marina vai discutir também sobre sua pesquisa, mas antes de trazer suas discussões e inquietações, ela apresentou como foi o seu processo de pesquisa. E falou também sobre a fonte de pesquisa que ela utilizou, que são livros de uma biblioteca católica. Ressaltando que a professora Giovana participou de um dos nossos seminários Internos e já havia feito isso. Após apresentou também falando sobre a mulher na sociedade brasileira.

Este evento me fez refletir sobre como um grupo impõe o seu modelo e acaba convencendo outros que seu modelo é o certo. De como um meio de comunicação, como é o caso do Jornal que a profª Giovana, muitas vezes acaba por promover meios de controlar essa desigualdade.

Também me fez refletir sobre como muitas vezes alguns discursos como o de igualdade esta internalizado nas pessoas que acabam por naturalizar algumas situações e repetir determinados discursos. Trouxe-me uma reflexão, que surgiu a partir do questionamento de minha colega Stephanie perguntou, sobre como muitas vezes nós mulheres acabamos por estar sempre nos transformando para seguir um parâmetro que um grupo impõe.

Assim agradeço as professoras debatedoras por suas falas que contribuem para a nossa formação e parabenizo a elas e aos colegas da mesa pela ótima mediação.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Diário de viagem #4 - Ações afirmativas: inclusão da diversidade etnicorracial

Participamos hoje de um minicurso cujo tema era Ações Afirmativas: Inclusão da diversidade etnicorracial. Talvez pela limitação de tempo e pelo grande esforço do Drn. Sérgio Pereira dos Santos em abordar a grande diversidade de assuntos relacionados a discussão das ações afirmativas e o desenrolar de seus processos históricos pairou uma sensação de superficialidade no andar das discussões. Ainda assim destaco alguns pontos que suscitaram reflexões ou questionamentos.
Durante  a apresentação foi recorrente o retorno a questão da formação da identidade negra e sua importância para a capacidade de articulação da luta por  direitos. Pensando nessa afirmação podemos problematizar quão prejudicial é a negligência do conceito de raça numa perspectiva política, social e cultural, que geralmente se manifesta em frases do tipo "Não existe raça" ou " quem tem raça é cachorro". Esse tipo de comportamento contribui, ao ignorar a existência desses grupos, para a maior dificuldade de mobilização e luta.
Essa não identificação tem também como um de seus resultados um fenômeno que torna a maior parte da população "moreninha" ou "chocolate", entre muitas outras denominações... A não identificação objetiva entre preto e branco acaba tirando de cenário tensões raciais que poderiam vir a se manifestar em nossa sociedade e contribuir para a luta anti racista. Ao falar das questões relacionadas as dificuldades enfrentadas pelos negros no Brasil toda essa camada que se coloca num setor intermediário não se reconhece e e não se mobiliza.
Algo que me chamou bastante atenção e que acho válido compartilhar foi a contribuição de um aluno da UFES, vindo do interior da Bahia. Esse aluno demonstrou receio quanto a recepção dos novos alunos cotistas que entrarão pela lei 12.711/2012, já que segundo sua perspectiva a UFES é uma Universidade extremamente racista. Suas preocupações giravam em torno de manifestações como as que aconteceram na UNB e mais recentemente na Unesp quando alunos não cotistas picharam injúrias raciais nas paredes das respectivas Universidades.
Saímos do debate refletindo sobre como poderia se dar essa recepção, inclusive transportando para a nossa realidade no Rio de Janeiro...ao chegar no banheiro nos deparamos com a seguinte manifestação:

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Diário de Viagem #5 - Encontrando o PET Conexões local

Nesta quinta-feira, dia 29 de novembro, chegamos ao campus da UFES cedo para que pudéssemos nos inscrever nos mini-cursos de interesse de cada um. Após fazer a inscrição, fomos conhecer um pouco mais o espaço do campus, que tornava-se cada vez mais interessante para nós por agrupar tantos cursos em um único espaço. Pudemos identificar em um mesmo corredor, cursos de ciências humanas e exatas!

Quando saímos do auditório, entramos em um corredor onde avistamos uma porta com uma identificação de "PET Conexões Educação". Não hesitamos em bater à porta para começar uma conversa sobre ambos os projetos, criar conexões, por assim dizer.

As bolsistas foram muito atenciosas na recepção, atitude recorrente entre os capixabas. Explicaram-nos que na UFES existem dois grupos de PET Conexões, o Educação e o Licenciatura.

Este encontro que tivemos foi com o grupo PET Conexões Educação, que é coordenado pela professora Valdete Côco e possui nove bolsistas. O foco do grupo é a atuação na Educação Infantil, onde estão presentes continuamente, pelo menos duas vezes por semana.

Descobrimos que o processo de seleção dos bolsistas ocorre de forma semelhante a do nosso, onde os alunos precisam ser de origem popular, o que é verificado por eles a partir do cadastramento do SIS (Sistema de Inclusão Social), algo semelhante à bolsa auxílio da UFRJ. A preferência de ingresso no grupo também é por alunos dos primeiros períodos da graduação.

O contato foi especialmente enriquecedor para que possamos futuramente ficar mais entrosadxs nos eventos que reúnem os grupos PET e PET Conexões em diferentes instâncias, sejam elas estaduais, regionais e nacionais. O grupo PET Conexões da UFES nos pareceu intensamente dedicado a criar essa conexão, tanto entre os grupos PETianos da universidade, quando com outros grupos de fora. Fica o exemplo e vamos nos dedicando a participar dos próximos eventos já confirmados para 2013: O Sudeste PET, que acontecerá em Águas de Lindoia e o ENAPET, em Recife.

Diário de Viagem #3 - "Conexões" na UFES

E qual não foi a nossa surpresa quando ouvimos sobre o Conexões de Saberes na UFES...
Ao chegar nessa Universidade algumas diferenças nos saltaram aos olhos, mas o fato de saber da existência de um Conexões de Saberes causou empatia de forma imediata.
Evidentemente existem algumas diferenças entre o modelo que foi aqui implantado e o que foi está sendo desenvolvido na UFRJ e a principal diferença que me chamou atenção foi o recorte racial aqui utilizado no processo de seleção dos bolsistas.
Segundo a coordenadora do projeto, Mestre Leonor Araújo, no ano de sua implementação existiam apenas 386 alunos com o perfil para ser bolsista do Conexões, em toda UFES, pode parecer um dado surpreendente mas se torna perfeitamente inteligível quando se caminha pelo campus da Universidade.
Participaram conosco da mesa de Reinstalação do fórum de educação etnicoracial , alunos da licenciatura noturna de cursos diversos . A sensação ao olhar esse público era de certa homogeneidade , eram majoritariamente brancos e de até 25 anos.
Em comparação com as minhas experiências na UFRJ observa-se uma mudança significativa quando se olha para as turmas de licenciatura noturna. Ao menos no IFCS-IH as turmas noturnas costumam ser bem mais heterogêneas, marcadas por  idades variadas e por maior diversidade racial. 
É evidente que baseio essa reflexão apenas em minhas impressões e não em dados meticulosamente coletados, mas se as impressões podem ser levadas em consideração as minhas trazem o seguinte paralelo: Mesmo nas turmas de licenciatura da UFES a sensação que se tem ao chegar é de estar entrando no Centro de Tecnologia da UFRJ.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Diário de Viagem #2 - Os estrangeiros

Este é o segundo post relacionado com a experiência que estamos vivenciando aqui em Vitória, Espírito Santo. Chegamos pela manhã desta quarta e fomos direto para a UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), pois nossa intenção era fazer o credenciamento antes de nos instalarmos na cidade. Contudo, houve uma mudança no cronograma do primeiro dia, passando o início das atividades para a parte da tarde. Aproveitamos este intervalo para nos situarmos no ambiente da universidade e também da cidade na qual estávamos começando a conhecer. A alteridade pode ser percebida pelo nosso grupo logo que começamos a nos relacionar com os habitantes. A maneira de se comportarem, a forma de falar, todos estes pequenos gestos rotineiros passaram a ser notados mais nitidamente na medida em que se distanciavam do que nos é reconhecido como habitual. Vale comentar nosso maior motivo de surpresa neste primeiro dia de contato, que foi o respeito ao pedestre que encontramos em todas as vias e ruas dos bairros em que circulamos. Bastava que colocássemos os pés na faixa de pedestres que todos os carros parravam, coisa que pouco podemos imaginar em nossas cidades fluminenses.

Voltando ao evento, no início da tarde, nos dirigimos à mesa de credenciamento onde nos deparamos com outra situação interessante. Um dxs alunxs participantes da produção do evento me abordou perguntando se havia sido eu a aluna da UFRJ que enviou um documento para comprovar sua identidade estudantil onde estavam listadas diversas disciplinas do curso de História. Thayara, a aluna em questão, lhe disse que era ela e tentou justificar a situação, mas não era esse o interesse do aluno da UFES. Ele, também pertencente ao curso de História, ficou impressionado com a amplidão de disciplinas e temáticas abordadas no currículo do curso oferecido em nossa universidade. É interessante observar que xs alunxs da UFRJ apresentam grande descontentamento com a grade que lhes é oferecida - não me apegarei neste momento a entrar no mérito de validade desta situação. Colocados diante daquele relato, onde o aluno nos disse que ali, em uma universidade federal, seu curso apenas se mantinha porque uma outra aluna apresentou uma proposta de currículo que é a atual, percebemos como as múltiplas faces do ensino no Brasil podem ser complexas e se estenderem nessa complexidade em diversos níveis.

Após este momento, participamos da primeira parte do evento, que era uma mesa formada com o intuito de provocar os participantes sobre a possibilidade de reinstalar o Fórum de Educação Etnicorraciais.
Logo em seguida, aconteceu a cerimônia oficial de abertura do evento, contando com representantes de diferentes esferas políticas estaduais, municipais e federal. A coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UFES) e também vice-reitora, Professora Drª. Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto seguiu dando início à Conferência "Relações Sul/Sul e os Desafios para Implementação da Lei 10.639/2003", com os conferentes Leonor Franco de Araújo e Dejair Dionisio.

Destaco desta mesa a fala da Mestre Leonor a respeito do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Realçando que o processo de implantação da Lei 10.639/2003 tem ocorrido sem que ela venha sendo implementada de fato, pelo menos no que se refere ao quadro em um perspectiva nacional, tornar-se necessária, nesse sentido, uma regulamentação associada a um plano de trabalho, com metas, ações e atores definidos. Isto ocorreria através de um documento referência, adaptável à especificidades de cada localidade, de forma que suas relações com a história e cultura afro-brasileira sejam valorizadas.
Eu, que ainda não havia ouvido falar deste plano e agora, mesmo que não o tenha lido na íntegra, creio que ele seja de grande valor no movimento de luta para o rompimento com o status quo encontrado no sistema de ensino brasileiro no que se refere à estas temáticas, afinal, apresenta uma proposta real a questão da limitação da Lei nas escolas e universidades, que acaba sendo alocada apenas no estudo folclórico de nosso país.

Diário de Viagem #01


Estamos no segundo ano de PET /Conexões de saberes - diversidade e chegamos aqui, no mês de novembro, depois de um longo período de greve que alterou significativamente a dinâmica de trabalho do nosso grupo. Enquanto no ano passado desenvolvemos mensalmente o “Cineclube Conexões em Cartaz” e bimensalmente o “Segundas de diálogos”, por conta da greve esse ano fizemos apenas duas  sessões do Cineclube e hoje realizaremos a primeira roda de diálogos.  
Apesar disso seguimos com os esforços de pesquisa, tendo sempre em mente os pilares que sustentam um bom trabalho universitário: ensino, pesquisa e extensão. Nos  preparamos durante o primeiro período através do curso de “Educação e Etnia” para os conexistas que ainda não o tinham cursado, e agora no segundo período  estamos cursando a disciplina “Colonialismo, educação e pedagogia da revolução”, no intuito de embasar teoricamente nossas reflexões. Além disso entendemos a própria pesquisa como um alimento para a extensão na escola parceira CIEP Gregório Bezerra localizada no bairro da Penha, Rio de Janeiro, atividade essa que foi realizada no mês de novembro de 2012.
Durantes as pesquisas trabalhamos de forma individual ou em dupla, Minha pesquisa foi individual. Ela buscou abordar as diferentes perspectivas sociais no início do século XX, a respeito de questões raciais presentes na sociedade da época. Para tanto analisei os jornais Clarim da Alvorada e Folha da noite traçando seu leitorado, o setor social que o jornal representa e sua ótica sobre a fundação da Frente Negra Brasileira (lembrando que como a pesquisa ainda está em desenvolvimento, outros eventos ainda serão analisados ). Com base na análise foi possível entender algumas convergências e divergências entre esses setores com relação a temática racial.
Como já disse anteriormente essa pesquisa gerou subsídios para a execução da oficina no Ciep Gregório Bezerra e a partir das experiências lá obtidas todo o grupo pautou suas apresentações no Congresso de extensão da UFRJ. A pesquisa nos levou a apresentação também na Jornada de iniciação científica da UFRJ, e nesse momento estamos em Vitória , Espírito Santo, dando início ao nosso “diário de viagem” que vai relatar nossas impressões sobre o V Seminário Nacional de Educação das Relações Raciais Afro-brasileiras, além de tudo que nos parecer pertinente com relação a experiência cultural que é sair dos limites do seu Estado.

Programação de Hoje (28/11):
- 17h Apresentação de grupos de Jongo/Congo
-19h Cerimônia de abertura – Conferência: Drª Luciana de Barros Jaccoud – Doutora em sociologia pela escola de altos estudos de Ciências Sociais (EHESS-Paris)                                                                                                                                                  




domingo, 25 de novembro de 2012

Mês de Integração Acadêmica 2012 - Impressões depois das apresentações





Entre os dias 01 de outubro e 09 de novembro, foi realizado o mês de integração acadêmica da UFRJ. A integração se refere à realização do 9º Congresso de Extensão e da 24ª Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural (JICTAC-2012).

Neste segundo ano de realização do PET - Conexões de Saberes / Diversidade estamos amadurecendo o processo de desenvolvimento de pesquisas e um importante passo para incrementarmos nossa ação foi a decisão de nos apresentarmos nos dois eventos do mês de integração acadêmica.

Nosso primeiro motivo de alegria foi a confirmação de que todas as nossas propostas de trabalho foram aceitas para apresentação oral, indicando, ao meu ver, que nossos argumentos possuem, de alguma forma, elegibilidade dentro do meio acadêmico.

A partir desta notícia, começamos nossa rodada de construção das apresentações. Fizemos isto da seguinte maneira: xs responsáveis por cada pesquisa (fossem elas individuais ou em pequenos grupos) elaboravam a síntese de suas pesquisas no formato de apresentação em slides e, seguindo um cronograma feito em conjunto, apresentamos para o restante do grupo. Este exercício foi especialmente importante para que pudéssemos alinhar cada apresentação a uma visão mais conjunta, além de podemos ajustar quaisquer detalhes que passaram despercebidos, algo comum quando estamos mergulhados em determinado projeto.

Minha primeira apresentação foi no Congresso de Extensão, ainda que não tenha ficado absolutamente satisfeita, pois minha dupla - Hosana - e eu não termos conseguido apresentar todo o material no tempo determinado, pudemos ter um retorno que realmente não esperava. O primeiro foi a sorte de termos em nossa banca a professora Gabriela Honorato, que adicionou apontamentos muito importantes à nossa pesquisa e que disponibilizou-se a manter um diálogo após a apresentação. O segundo motivo de realização após a apresentação foi a abordagem, no meio do corredor da ECO, de uma aluna que estava na mesma sala onde nos apresentamos. Ela chegou emocionada contando sua história de superação que a levou até o status atual de universitária, o qual, visivelmente, era motivo de grande orgulho. Foi nesse instante em que pudemos perceber a importância das políticas de ação afirmativa.

Eu quero poder ouvir tantos outros discursos como o desta aluna. Saber que, assim como para ela, como para Hosana e, claro, para mim, entrar na universidade pública representou uma verdadeira metamorfose.

Já na apresentação da JICTAC o sentimento envolvia um pouco de aflição, pois havia certo receio em relação ao posicionamento da banca. Felizmente, depois que adaptamos a apresentação, conseguimos fazê-la no tempo disponível. Ouvimos elogios pela realização da pesquisa e, particularmente, fiquei com a questão levantada pelo avaliador convidado martelando em minha cabeça: "De que maneira nossa pesquisa poderia influir nas visões contrárias às cotas em nossa universidade?"

sábado, 22 de setembro de 2012

Aprendendo a pesquisar

seminário interno

No dia 11 de abril de 2012, o grupo Diversidade do projeto PEt/ Conexão de Saberes,  vivenciou o enorme prazer em receber  para uma palestra a porfessora Giovana Xavier.
O objetivo principal deste encontro era a oportunidade do grupo ouvir o processo de "descoberta do tema da pesquisa de doutora da professora.Para que sua experiencia proporcionasse em cada componente do grupo uma reação de insentivo na produção das pesqusas individuais desenvolvidads no grupo de extensão.
A tarde foi riquissima, pois a generosidade de Giovana  abriu um espaço para várias reflexões e principalmente, para o fato de que indecisão e a mudança de temática na busca do objeto de estudo é normal. Mas, o importante é não parar de estudar e, criar uma rotina fixa de estudo e pesquisa.
A convidada compartilhou com o grupo um pouco de sua história de experiencias academicas. Seu projeto de doutorado possuia como tema inicial: "O olhar da medicina para as mulheres negras, relação de cor e genero".Porém suas pesquisar e descobertas foram guiando-a para caminhos mais profundos de visão mais especificada para a imagem da pessoa negra numa sociedade capitalista.
Jornais produzidos por negros no período pós-abolição(1920-1930), "Imprensa negra",foram fontes de pesquisa.registros mostram concurso de beleza para mulheres negras, em 1916.Os jornais produzidos pro negros para uma população de leitores negros,destacavasse na visão de Giovana a quantidade denuncias de linxamentos contra negros e ainda, a imagem donegro como um problema de sobrevivencia. pois o preconceito e o racismo eram demonstrados com muita frequencia e violencia.
O interesse de estudo foi seguindo para a persepção de que nos jornais apareciam muitos anuncios de clareamento de pele negra.Este procedimento era admitido por muitos negros como estrátegia para fugir do preconceito. Pois, existia uma hierarquia entre negros de pele clara e negros de pele mais escura. A pele mais clara era garantia para ascenção social.
Para os negros que sofriam risco de vida diariamente,por causa das inumeras manifestações de racismo, mudar a constituição física, era uma possibilidade viável de garantir bons empregos, respeito e por questões de sobrevivencia.
esta necessidade de mudar ou, de melhorar a aperencia em comparação com os brancos, possibilitou a muitos negros a ascenção social por meio de vendas de produtos de beleza.Um grande exemplo é o da criadora do pente quente(pesquisar o nome dela)
Pode-se concluir que, por meio deste seminário, fica evidente que a busca continua do objeto de trabalho requer disciplina com os horários e dedicação aos artigos, livros fotografias e a todo e qualquer fonte de pesquisa.
Parabenizo nesta oportunidade a Giovana Xavier, pela excelente tese de doutorado que espero encontrar nas livrarias, pra também usá-la como referencia bibliografica em minha area de pesquisa.

sábado, 2 de junho de 2012

Minhas percepções sobre o Seminário Internacional Histórias do Pós-abolição no Mundo Atlântico



     Escrevo ainda encantada com o Seminário Internacional Histórias do pós-abolição no Mundo Atlântico, ocorrido no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, nos dias 14,15 e 16 de maio. Primeiro de tudo porque é inevitável o sentimento de admiração ao conhecer suas referências bibliográficas ao vivo e á cores.
     A animação foi grande também por ver tanta gente trabalhando com o pós-abolição. Quanto a esse tema, é perceptível a marginalidade a qual ele é relegado na academia e perceber tanta gente pesquisando e produzindo nessa área foi instigante.
     Quanto aos trabalhos, eram as temáticas mais diversificadas possíveis desde a odisseia de Rosalie no trabalho "Rosalie nação Poulard. Uma odisseia atlântica na era das emancipações" da Drª Rebeca Scott da  University of Michigan até as  interpretações feitas a cerca do marujo e suas características físicas entre os anos de 1890-1910 no trabalho "Corpo, cidadania e cor: Ser marujo no pós-abolição" da Drª Silvia Capanema da Université Paris 13-Nord.
     Participar desse seminário abriu um leque de novos assuntos, conexões e referências que eu nem sabia que existiam. Essa exposição às mais diversas perspectivas trouxe consigo também a oportunidade de abrir a mente para outros pontos de vista acerca de assuntos que eu já conhecia.
     Certo é que eu saí de lá com muita vontade de conhecer mais a todos os elementos interessantes que foram apresentados.
     Falando agora sobre o que mais me impressionou posso citar primeiramente o trabalho da Drª Giovana Xavier da UFRJ, "Don´t Worry About Bad Skin": indústria cosmética, propaganda e cultura da beleza negra na pós-emancipação (EUA, 1917-1928)". Apontando uma tendência de usar os  "bleachings" como saída a um problema social que representava ser uma "colored girl" naquele período.
     Cito também o trabalho " A cidade vestiu-se de gala". As outras festas de maio de 1888" da Drª Renata Moraes da PUC- Rio. Esse trabalho deixou evidenciado algo que acabo me esquecendo às vezes, de que a visão de uma princesa Isabel não redentora que assinou a abolição respondendo a demanda emergente de um contexto político e social é uma construção feita a posteriori. Analisando essa abolição a luz das consequências que ela trouxe para uma maioria dos "homens de cor" que já se encontrava livre ou liberta é fácil esquecer o contexto da época no qual a princesa foi celebrada sim por assinar a lei em 13 de maio de 1888.
     Por último cito os dois trabalhos sobre Lima Barreto apresentados no primeiro dia do seminário. "O literato da "Vila Quilombo": Lima Barreto no Brasil do pós-abolição", do Dr° Denilson Botelho da UFPI e "Os caminhos da negritude em Lima Barreto" da Drª Laiana Lannes de Oliveira, da Fundação Casa de Rui Barbosa. Esses trabalhos trouxeram questionamentos interessantes acerca da apropriação da imagem de Lima Barreto como uma espécie de mártir negro em contraposição a existência de manifestações racistas em seus diários. Além de trazer a tona e questionar a possibilidade de uma identidade partida: porque Lima Barreto por ser negro tinha necessariamente  que desenvolver um perfil de identidade que fosse racializado,  tornando esse conflito racial existente em seus diários uma "ruptura" de personalidade?
     Essa foi apenas uma pequena parte das discussões acontecidas no seminário, os debates foram muito ricos e foi uma excelente oportunidade de aprendizado.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Seminário: "Política, educação e democracia nos EUA". Prof. Ollie Johnson


Na última quarta-feira(02) participei junto a companheiros do PET/Conexões de saberes Diversidade e Identidade, de uma palestra com o professor Ollie Johnson*, norte americano, cientista político, professor da Wayne State University, em Detroit, EUA. O título da palestra foi: "Política, educação e democracia nos EUA".
 Este encontro foi realizado pela professora Rosana Heringer, professora adjunta da Faculdade de Educação/UFRJ, no horário em que sua disciplina “Educação e Etnia” é ministrada.
Durante a palestra, Johnson abordou diversas questões que dizem respeito ao contexto norte americano, porém sempre contextualizando-as com a realidade brasileira, apontando determinadas semelhanças e diferenças. Como a eleição de Barack Obama e a construção e processo eleitoral nos EUA, que é em certa medida, diferente do nosso sistema, no que diz respeito ao voto não ser obrigatório e ao fato da votação para presidente ser feita em delegados e não diretamente no candidato.
O Professor comentou sobre os EUA terem diversas bases militares em todos os continentes, dando assim uma ideia de dominação global bélica por parte de seu governo.
Ollie falou sobre o genocídio indígena e sobre a constituição norte americana, racista, sexista, feita por brancos abastados. Para ele essa é a raiz de diversos problemas que os Estados Unidos enfrentam.
Em determinado momento, o professor Johnson disse acreditar que os EUA não teve ao longo de sua história, nenhum ano de democracia de fato, pois o sistema politico não deixa que haja transformação na estrutura da sociedade, na verdade, tudo é bem amarrado para que não aconteçam mudanças e a disputa de poder fique entre Republicanos e Democratas.
Sobre o sistema educacional nos Estados Unidos, Johnson disse que apesar de haver um ministério da educação, as deliberações sobre o que será feito nas escolas parte essencialmente das esferas municipais, tendo estas mais poder do que a esfera federal no que diz respeito a currículo e conteúdos.

*Ollie Johnson tem graduação em Estudo Afro-Americanos e Relações Internacionais e mestrado em Estudos Brasileiros pela Brown University. Tem mestrado e doutorado em Ciência Política pela University of California at Berkeley. Seu primeiro livro, Política Partidária Brasileira e o golpe de 1964 foi publicado em 2001. Ele co-organizou o livro Organizações Políticas Negras na era pós-direitos civis, publicado em 2002. Prof. Johnson realizou pesquisas sobre o Partido dos Panteras Negras, a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, e outros grupos políticos negros nos EUA. Ele fez conferências sobre política afro-americana no Brasil, Colômbia, Equador e Japão. Sua pesquisa atual é sobre política afro-brasileira e afro-latino-americana.