sábado, 22 de dezembro de 2012

Ponto de partida



Em mais um dia noturno de aula no CIEP Gregório Bezerra, localizado no subúrbio carioca da Penha, realizamos uma oficina. Quando coloco "nós" não me refiro apenas ao grupo de pesquisa e extensão, mas também aos educandos da turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos). A proposição da aula/oficina era questionarmos conjuntamente a abertura da educação pública na década de 1920 em uma cidade que estava sendo moldada para ser a grande vitrine nacional da construção da identidade brasileira, Rio de Janeiro.


Quando nos propomos a indagar a proposição da educação fundamental para "todos" nos deparamos com a constatação de que: primeiro, sim! todos entram igualmente na ensino básico; segundo, não! todos não são tratados igualmente; terceiro, é! a diferença entre os indivíduos não valorizada se torna desigualdade e quarto, ihhh! a culpa não é minha.


A culpabilização do sujeito pela sua situação social é algo que trazemos introjetado em nosso pensamento e isso favorece a manutenção do sistema que temos, pois "oportunidade de estudar tivemos, mas não aproveitamos e agora voltamos cheios de vergonha e culpa por não sermos o que deveríamos ser, ou seja, permanecemos ninguém já que a educação te faz ser alguém". Coloco tudo entre as mágicas aspas que me exime de qualquer relação deste pensamento com minha opinião em constante formação, mas até que ponto?.


A ideia da oficina era basicamente seguirmos a trajetória de vida de três indivíduos (enquanto tipos ideais) para analisarmos a suposta culpa do sujeito pelo seu "fracasso escolar". Então seguindo a vida dos sujeitos-exemplos para analisarmos as causas da culpa temos o primeiro individuo filho da classe abastada, a segunda filha da classe media baixa e o terceiro filho da classe baixa e seus "destinos" baseados no mesmo ponto de partida, o ingresso na primeira série do ensino fundamental. Entretanto o mesmo ponto de partida não define o mesmo fado, mas as condições sociais vivenciadas por estes tipos ideais conspiram para suas "escolhas" e sendo assim suas classificações enquanto "alguém na vida" e ninguém".


A conversa que tivemos foi para além do que esta estudante que escreve tais linhas esperava, pois não poderia imaginar o quão rica seria as exposições de ideias sobre a desigualdade social que vivemos e o quanto tais informações puderam ser relacionadas imediatamente com suas biografias e conteúdos escolares. Os educandxs se apresentaram, como queria que fosse e não imaginava que seria, com opiniões criticas sobre a educação e para além do recorte educacional, se perceberam como produtos e produtores (que somos) das condições sociais vividas. Ao darmos outra direção ao nosso olhar nos deparamos com diversas questões que nos fazem permanecer onde e como estamos, assim como a Maria de Milton Nascimento que simboliza uma gente que "não vive apenas aguenta". E ainda usando Maria percebo que estes estudos e ações conjuntas nos fazem não a imagem e semelhança de nada, mas sim uma gente que " traz no corpo a marca" e também " traz na pela essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida". Termino assim então este escrito do carcere social compartilhado por todxs nós e mais uma vez percebo o quanto a troca que estabelecemos em sala de aula é essencial para minha formação como educadora e educanda.



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