Este é o segundo post relacionado com a experiência que estamos vivenciando aqui em Vitória, Espírito Santo. Chegamos pela manhã desta quarta e fomos direto para a UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), pois nossa intenção era fazer o credenciamento antes de nos instalarmos na cidade. Contudo, houve uma mudança no cronograma do primeiro dia, passando o início das atividades para a parte da tarde. Aproveitamos este intervalo para nos situarmos no ambiente da universidade e também da cidade na qual estávamos começando a conhecer. A alteridade pode ser percebida pelo nosso grupo logo que começamos a nos relacionar com os habitantes. A maneira de se comportarem, a forma de falar, todos estes pequenos gestos rotineiros passaram a ser notados mais nitidamente na medida em que se distanciavam do que nos é reconhecido como habitual. Vale comentar nosso maior motivo de surpresa neste primeiro dia de contato, que foi o respeito ao pedestre que encontramos em todas as vias e ruas dos bairros em que circulamos. Bastava que colocássemos os pés na faixa de pedestres que todos os carros parravam, coisa que pouco podemos imaginar em nossas cidades fluminenses.
Voltando ao evento, no início da tarde, nos dirigimos à mesa de credenciamento onde nos deparamos com outra situação interessante. Um dxs alunxs participantes da produção do evento me abordou perguntando se havia sido eu a aluna da UFRJ que enviou um documento para comprovar sua identidade estudantil onde estavam listadas diversas disciplinas do curso de História. Thayara, a aluna em questão, lhe disse que era ela e tentou justificar a situação, mas não era esse o interesse do aluno da UFES. Ele, também pertencente ao curso de História, ficou impressionado com a amplidão de disciplinas e temáticas abordadas no currículo do curso oferecido em nossa universidade. É interessante observar que xs alunxs da UFRJ apresentam grande descontentamento com a grade que lhes é oferecida - não me apegarei neste momento a entrar no mérito de validade desta situação. Colocados diante daquele relato, onde o aluno nos disse que ali, em uma universidade federal, seu curso apenas se mantinha porque uma outra aluna apresentou uma proposta de currículo que é a atual, percebemos como as múltiplas faces do ensino no Brasil podem ser complexas e se estenderem nessa complexidade em diversos níveis.
Após este momento, participamos da primeira parte do evento, que era uma mesa formada com o intuito de provocar os participantes sobre a possibilidade de reinstalar o Fórum de Educação Etnicorraciais.
Logo em seguida, aconteceu a cerimônia oficial de abertura do evento, contando com representantes de diferentes esferas políticas estaduais, municipais e federal. A coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UFES) e também vice-reitora, Professora Drª. Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto seguiu dando início à Conferência "Relações Sul/Sul e os Desafios para Implementação da Lei 10.639/2003", com os conferentes Leonor Franco de Araújo e Dejair Dionisio.
Destaco desta mesa a fala da Mestre Leonor a respeito do Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação das Relações Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Realçando que o processo de implantação da Lei 10.639/2003 tem ocorrido sem que ela venha sendo implementada de fato, pelo menos no que se refere ao quadro em um perspectiva nacional, tornar-se necessária, nesse sentido, uma regulamentação associada a um plano de trabalho, com metas, ações e atores definidos. Isto ocorreria através de um documento referência, adaptável à especificidades de cada localidade, de forma que suas relações com a história e cultura afro-brasileira sejam valorizadas.
Eu, que ainda não havia ouvido falar deste plano e agora, mesmo que não o tenha lido na íntegra, creio que ele seja de grande valor no movimento de luta para o rompimento com o status quo encontrado no sistema de ensino brasileiro no que se refere à estas temáticas, afinal, apresenta uma proposta real a questão da limitação da Lei nas escolas e universidades, que acaba sendo alocada apenas no estudo folclórico de nosso país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário