Por: Thayara C. S. de Lima
Aconteceu na última quarta feira, dia 29 de junho, a segunda edição do cine clube Conexões em Cartaz, com a exibição do filme ´´Amistad``.
Participei, com boa dose de nervosismo, realizando a contextualização do filme.
´´Amistad`` é uma produção ´´Hollywoodiana`` e como tal deve ser analisada, fato para o qual nos atentou a Profª convidada, e também coordenadora do projeto PET conexões - Identidades, Warley da Costa. Muito embora não possa ser desconsiderada seu valor como fruto de uma detalhada pesquisa histórica e ótimo material elucidativo para utilização em sala de aula.
O filme possui uma forte carga emocional e começa explicitando a recusa dos africanos, recém capturados, em tornarem-se escravos. Mesmo acorrentados, em nenhum momento eles deixaram que sua essência fosse escravizada.
Nos são apresentadas diversas etapas de sua luta, começando pelo embate com os traficantes negreiros, contexto no qual é exposto todo tipo de maus tratos e desumanidades as quais eram submetidos os prisioneiros, e chegando a luta jurídica pela sua liberdade, que com o engajamento dos abolicionistas estadunidenses passou do status de pleito de um grupo específico ao de uma luta mais generalizada pela abolição.
É interessante observar que mesmo em meio a todas essas situações adversas, a sua identidade cultural permanece inabalável, seja numa prisão estadunidense, ou a bordo do navio negreiro eles mantém intactas suas tradições culturais, e esse sentimento de pertencimento a um lugar é representada principalmente pelo intenso desejo de retorno a África. Não adianta que sejam dadas cem voltas em torno da árvore do esquecimento (referência ao primeiro filme exibido no Cine clube, o documentário ´´Atlântico negro: Na rota dos Orixás``. No qual se faz referência a um ritual que os capturados eram obrigados a fazer, segundo esse costume, ao dar determinada quantidade de voltas na ´´Árvore do esquecimento`` o escravizado tornava-se uma ´´página em branco`` esquecendo-se de sua cultura e tradições e pronto pra uma vida de servidão como simples instrumento de trabalho). Por conta dessa forte identidade ,que eles mantinham, a cultura africana acabou por se espalhar pelo mundo juntamente com os escravos.
Outra questão referente a cultura que chama bastante atenção é o choque cultural bilateral, não há só o espanto do estadunidense para com o africano, o oposto também é exemplificado desmistificando inclusive a visão tribal que prevalece no imaginário popular sobre a África.
Este Filme é baseado em fatos reais, e refere-se ao processo UNITED STATES X LIBELLANTES AND CLAIMANTS OF THE SCHOONER AMISTAD (Estados Unidos X requerentes da escuna amistad). Esta foi a primeira vez que a escravidão foi de fato enfrentada pela suprema corte estadunidense.
A acusação foi baseada em um tratado ratificado pelos EUA e pela Espanha, e tenta se valer da classificação dos negros como mercadorias. Segue o artigo 9° desse tratado :
´´Todos os navios e mercadorias, de qualquer natureza, que sejam resgatados das mãos de piratas e ladrões, em alto-mar,devem ser levados para qualquer porto de um dos países participantes do tratado, e lá devem permanecer sob custódia pelas autoridades portuárias, para que sejam devolvidos para seus verdadeiros proprietários, assim que houver comprovação suficiente relativa a sua propriedade``
O que antes era apenas um processo de cunho comercial, acaba tocando num ponto central da política americana na época: a questão do abolicionismo. Todo o julgamento do processo é permeado pelo constante medo de uma guerra civil, e nesse momento era notório o receio político de que esse processo viesse a ser o estopim.
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