domingo, 26 de junho de 2011

Cine clube de Junho - "Amistad"


Essa semana os projetos "PET/Conexões de saberes- Diversidade" e "PET/Conexões de saberes -Identidades" estará com o evento "Cine clube em cartaz" em sua segunda exibição. O evento acontecerá no dia 29 de Junho à partir das 14 horas na sala de vídeo da Faculdade de Educação da UFRJ. Teremos uma contextualização e a mediação de uma das bolsistas do projeto Diversidade e também uma das autoras do blog: Thayara Lima, além da participação mais que especial da professora da UFRJ e coordenadora do projeto Identidades: Warley da Costa.

O filme a ser exibido será "Amistad" uma produção de Steven Spielberg baseada em fatos reais, contando uma história de luta em favor da liberdade.
A Faculdade fica no Campus da Praia Vermelha na Avenida Pasteur, 250, Fundos, 2º andar - Urca, Rio de Janeiro.

As críticas continuam.... A interferência do setor privado nas Universidades públicas

Dando continuidade as impressões, criticas e reflexões sobre o livro: “A Universidade do século XXI” do intelectual Boaventura, segue minha contribuição e opiniões quanto ao assunto explorado:

Uma das questões mais polêmicas como podemos ver, nas criticas dos colegas petianos Thayara e Bruno, é a interferência do setor privado nas Universidades públicas. Assumo que sou um pouco pessimista em relação ao Estado, mas não vejo por que apontarmos como saída a entrada cada vez mais facilitada do setor privado em uma instituição pública, não cabe a nós o direito de reivindicar? De lutar por nossos direitos? Essas duas perguntas geradas por um inconformismo chegam a ser consideradas “chavões” para muitos, mas a repetição de tais frases refletem há quanto tempo se tem lutado em prol de uma Universidade de qualidade ao acesso de todos.

Mas, mediante a tantas crises e ao desinteresse do Estado, não vejo como solução uma “legitimação” do setor privado, pelo contrário, vejo uma complicação e uma dependência cada vez maior das Universidades públicas as grandes corporações, gerando riquezas e conhecimentos não para um bem social, mas para um interesse lucrativo de uma ideologia dominante. Quanto mais nos deixamos “envolver’ por essa privatização, o Estado diminui a sua responsabilidade para com o Ensino superior.

Já somos considerados como um setor de serviços pelo Estado, agora estamos em pleno processo de mercado lucrativo das grandes empresas, permitindo essa flexibilização de nosso espaço público superior, sem querer ser dramática ou radical, do jeito que estamos iniciaremos um intenso processo de privatização das Universidades públicas e para conter a população, algumas “políticas de caridade” por parte do Estado, com bolsas minguantes de auxilio, sem a mínima preocupação em democratizar o acesso e a permanência daqueles oriundos das classes populares.

O que podemos fazer além de estudar e compreender a situação pela qual a Universidade tem passado é ir contra um consenso hegemônico apresentado a nós pela globalização neoliberal, com suas tecnologias de informação e comunicação reforçando ideias de empregabilidade, descompromisso do governo para com a população e a ampla privatização dos bens públicos. Não estamos em uma situação fácil seja de atuação, seja de reconhecimento da luta, mas o que não podemos deixar de fazer é continuar a propagar e apresentar ideias e soluções contra-hegemônicas afinal, “Não cabe a nós o direito de reivindicar? De lutar por nossos direitos?”


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Crítica ao capital privado nas Universidades - ´´A Universidade no século XXI``

Por: Thayara C. S. de Lima

Quanto a questão da iniciativa privada, discordando do Bruno, não acredito ser possível uma associação onde há o capital empresarial entrando na universidade, sem esperar um retorno. Apartir do momento em que uma empresa privada instala seu capital dentro da universidade, e as vezes instala-se até fisicamente, ela acaba direcionando e monopolizando as pesquisas, não sei se me faço entender perfeitamente. Um exemplo claro é a corrida por financiamentos, onde ao invés de se pesquisar em uma área de interesse o pesquisador opta por realizar seus estudos baseado na possibilidade de aplicação em determinada empresa, os conhecimentos deixam de visar o benefício universal e passam a ter uma conotação capitalista, outra consequência é o surgimento do monopólio do conhecimento pela determinada empresa, o que no texto de Marilena Chauí era denominado como ´´Sociedade do conhecimento``.
Não enxergo os níveis da mercadorização da educação de forma isolada, acredito que o primeiro irremediavelmente levará ao próximo caso a sociedade acadêmica aceite essa associação com o capital privado. Concluindo a citação do Boaventura que o Bruno utilizou, ´´a universidade pública mantém a sua autonomia e a sua especificidade institucional, privatizando parte dos serviços que presta.`` Para mim soa contraditório uma universidade pública com parte de seus serviços privatizados.

Não acho que os EUA seja um exemplo a ser seguido, sob a minha ótica o que houve com as universidades de lá foi exatamente o que nós lutamos para que não aconteça aqui, as universidades públicas foram absolutamente banalizadas, e mesmo assim elas não são mais gratuitas, o estado praticamente se eximiu de responsabilidade sobre a educação superior, e como o autor cita em grande parte elas se mantém ´´através do aumento dos preços das matrículas``, em minha opinião o resultado desse processo foi uma elitização ainda maior dos níveis superiores de ensino de qualidade. Não raramente observamos em filmes de hollywood cenas onde um bebê nasce e os pais começam uma poupança para a universidade, pode parecer um exemplo banal, mas demonstra a inacessibilidade que esse processo acarretaria para um estudante de origem popular que desejasse ingressar em uma universidade de qualidade aqui no Brasil.
Ainda no campo dos exemplos estrangeiros, me chamou muita atenção a postura adotada pelo banco mundial em relação a África. Acredito que a impossibilidade de crescimento intelectual gera uma sociedade que jamais conseguirá se estruturar adequadamente do ponto de vista político e econômico gerando assim um ciclo de subdesenvolvimento.

As crises da Universidade pública já estão devidamente identificadas, Fica claro pra nós que a própria instituição aparenta não ter tomado consciência dos danos acarretados pela sua postura de organização social, uma vez que elas seguem ainda cultivando as causas dessas crises. Cabe a sociedade acadêmica não permitir que elas sejam resolvidas/encobertas como foram a crise de legitimidade e a crise de hegemonia, sendo niveladas por baixo, a primeira ´´pela crescente segmentação do sistema universitário`` e a segunda ´´pela crescente descaracterização intelectual da universidade``.

Possibilidades para a Universidade Pública - ´´A Universidade no século XXI``

Por: Bruno Ramalho

É inegável, e já discutimos bem isso com o texto de Marilena Chauí, que a universidade pública está passando por sérias crises. O constante desinteresse do Estado em garantir a universidade como um bem público é apenas um dos problemas apontados no texto, ao qual procuro me focar.
Defendo com unhas e dentes a gratuidade da universidade, entretanto, acredito sim que a iniciativa privada pode ajudar a melhorar um quadro onde o ensino público é, cada vez mais, visto como um peso para o Estado. Seria muito lugar-comum defender aqui uma reforma universitária, onde o Estado passasse a valorizar a educação, garantindo sua legitimidade, investindo em infraestrutura, valorizando o professor ... Se isso acontecesse seria realmente ótimo, entretanto não aconteceu, e com a perspectiva que nós temos (já começamos o ano de 2011 com a notícia de um corte estratosférico na verba para a educação), parece que tão cedo não acontecerá.

Por isso, defendo que as instituições privadas podem sim ajudar na superação das crises da universidade pública.
Na página doze, Boaventura diz o seguinte: "O primeiro nível de mercadorização consiste em induzir a universidade a ultrapassar a crise financeira mediante a geração de receitas próprias, nomeadamente através de parcerias com o capital, sobretudo industrial.Neste nível, a universidade pública mantém a sua autonomia e a sua especificidade institucional, privatizando parte dos serviços que presta."
Até aí, eu concordo. Acredito que o capital privado só deve ser aceito sem a perda da autonomia e da legitimidade da universidade pública. O que não concordo é que a universidade seja submissa a esse capital, se adaptando às necessidades desse setor. Não acredito que a parceria com o capital privado leve à mercadorização do ensino superior público, mas sim a submissão do ensino a esse capital.

É ao que Boaventura chama de ''segundo nível de mercadorização'' que eu me oponho. A universidade como um todo (alunos, docentes, técnico-administrativos, etc) deve se opor a caracterização da mesma como uma empresa, um mercado de gestão universitária, onde se vendem certificações.

Termino minha pequena exposição citando o exemplo dos Estados Unidos da América. Onde as universidades privadas se encontram no topo da hierarquia (o que não é o caso do Brasil), as universidades públicas se adaptaram, buscando fontes alternativas de financiamento em instituições e fundações. A conseqüência disso é que hoje as univesidades públicas daquele país dependem cada vez menos do Estado.

Gostaria apenas de salientar que não defendo a cobrança de mensalidades em universidades públicas, como ocorre nos EUA. Reitero que sou a favor da gratuidade do ensino superior. Obviamente não tenho a solução para os problemas educacionais do Brasil, nem tenho essa pretensão. O que proponho aqui é um diálogo, explorar alternativas além da, já batida, idéia de esperar que o governo passe a valorizar o ensino. Enfim, aceito concordâncias e discordâncias. Acredito que esse espaço seja para isso, trocarmos idéias.

A Universidade no século XXI

Por: Thayara C. S. de Lima

Boaventura de Sousa Santos, nascido em 15 de novembro de 1940, é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da Faculdade de Direito da Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick, além de participar da coordenação científica dos seguintes programas de doutoramento: Direito, justiça e cidadania no século XXI, Democracia no século XXI e Pós-Colonialismos e cidadania global.
Tem trabalhos publicados sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia, democracia e direitos humanos.

Nos ateremos por enquanto ao seu artigo entitulado "A Universidade no século XXI", no qual Boaventura defende a ideia de que a universidade está mergulhada numa crise profunda e de dimensões globais, mas com especificidades em cada país.
Segundo o sociólogo, trata-se de uma crise, predominantemente, institucional, decorrente de um processo crescente de descapitalização - em que os governos deixam de investir - e de privatização da universidade pública. Esse processo, que teve início nos anos 80, chega, na atualidade, a uma situação de limite. "A universidade tal qual ela é está a chegar ao fim", resume.

O citado texto pode ser vizualizado no seguinte link : ´´A Universidade no século XXI``