domingo, 23 de outubro de 2011

Relatos da oficina: "Quem conta um conto... Se esquece de um ponto" - parte I

As oficinas temáticas, mais uma das atividades do PET/ Conexões de Saberes - Diversidade, foram realizadas nos meses de Setembro e Outubro por todos os integrantes do projeto nas respectivas escolas CIEP Gregório Bezerra localizado no bairro da Penha zona norte do Rio de Janeiro e no Colégio Antonio da Silva em Comendador Soares no Município de Nova Iguaçu.


Tivemos por objetivo levar ao conhecimento dos participantes um pouco mais das influências da matriz africana em nosso país, não apenas valorizando, mas respeitando tal contribuição e também numa iniciativa para que não se apague e muito menos se omita tamanha riqueza presente desde o início da construção de nossa sociedade até aos dias de nossa sociedade atual.


Bom, antes de expressar nesse espaço quais foram minhas impressões, expectativas, e claro, sobre os meus sentimentos (por que não?), vou tentar resumidamente explicar o porquê ter escolhido trabalhar com contos afro-brasileiros. Cada integrante do grupo PET/ Conexões de saberes- Diversidade teve a oportunidade de escolher qualquer tema desde que estivesse dentro da temática “diversidade” e não necessariamente trabalhar a questão do “negro”. Tive muita dificuldade em desenvolver o que eu queria, pensei em várias coisas, e ao mesmo tempo em nada, não foi uma atividade para pontuar como fácil ou difícil, mas simplesmente uma fase de aprendizado, foi mais um passo na nossa autonomia, pois foi nos dada à confiança de algo que não nos foi imposto, porém uma escolha dentre muitas que teríamos que fazer, teríamos que estudar o assunto e mais do que isso, realizar uma oficina sobre esse assunto.


Apesar de toda essa “complicação” inicial, de uma coisa eu já sabia: “Quero ressaltar a riqueza do negro, não sei exatamente de que forma ainda, mas é sobre esse tema que será a minha oficina”. A própria escolha de um objeto de pesquisa, foi de grande aprendizado para mim, no início admito que não estava entendendo o que era exatamente para ser feito, pois para se realizar uma atividade de “extensão” antes é necessário se realizar uma “pesquisa” e era essa indissociabilidade que eu não compreendia. “Ir para fora”, fazer extensão não significa ser algo inferior ou superior do que o ato científico da pesquisa, por mais que alguns façam essa hierarquia, posso com clara e inabalável certeza dizer que esta afirmação é equívoca, apesar de não reconhecida por muitos.


Compreender essa indissociabilidade de pesquisa e extensão, incluindo o ensino, completando assim esse “tripé”, digamos que tenha “clareado” a minha mente. Retornei a pensar novamente sobre assuntos para serem estudados, pesquisados e enfim realizados em forma de oficinas temáticas. Como “material” para nossa pesquisa, teríamos que buscar em nossa grade curricular da graduação uma disciplina na qual poderia ser trabalhada/refletida as relações raciais em suas diversas dimensões, durante o período de estruturação da oficina, estava no 3º período e tendo uma disciplina com o nome de “Educação e comunicação I”, onde entre outras coisas, a importância em se formar leitores e, portanto, estudando os diferentes gêneros textuais presentes na literatura, tais como lendas, fábulas e sim, os contos.



Fiz algumas “transações” com a professora da disciplina que me deu algumas dicas e me sugeriu ler Luís da Câmara Cascudo, um dos maiores estudiosos sobre a cultura brasileira e fui me encontrando nos contos, mas não nos contos em si, pensei no folclore, na cultura popular brasileira, só que é um assunto tenso e complexo. Acredito que meu grande equivoco ao falar sobre o tema foi não tê-lo estudado, o que eu fiz foi apenas “armazenar” conteúdos. Me apropriando das falas de Paulo Freire presentes no livro “Professora sim, tia não” (olho d’água , 1997) em que diz :



“Estudar é uma preparação para conhecer, é um exercício paciente e impaciente de quem, não pretendendo tudo de uma vez, luta para fazer a vez de conhecer”.



Reconheço que uma das minhas dificuldades foi a falta do “exercício paciente e impaciente”. O exercício da impaciência em busca de conhecer e compreender, e o exercício da paciência do não ter compreendido e assim ter que retornar, ler e pesquisar novamente para então ter propriedade do que se fala. Estudar nas palavras de Paulo Freire (1997), é uma ação que necessita ser trabalhada e forjada, sendo necessário ser persistente, e como dever de todo aquele que se engaja nessa tarefa é preciso estar instrumentado, estando disposto a aprender com o diferente e com o antagônico também.


Quando apresentei para o grupo a minha proposta, ainda não tinha compreendido essa visão do que é estudar, do que é conhecer, resultado, não foi uma boa apresentação além de se trabalhar folclore ter sido um tema não propenso. Resolvi iniciar tudo novamente, e com o exercício paciente e impaciente pude dar o "pontapé" inicial para conhecer sobre o que estou falando. Com a ajuda de colegas e dos instrumentos necessários (materiais, suportes de estudo) e com a devida orientação acadêmica, pude incrementar e definir a minha proposta."Ufa"! Ainda estou em processo, ainda há muito o que aprender!


Logo no início, disse que tentaria descrever resumidamente sobre como foi a escolha do tema e a estruturação para a oficina. Isso não foi o resumido que eu pensava... mas, resolvi dividir essa experiência em três partes, essa foi a parte I, na próxima eu descrevo como foi a realização da oficina na escola da Penha e por último em Comendador Soares.




Até breve!




Luciana S. Silva








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