quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Os saberes em conexão

Relatos da oficina “Quem conta um conto... Se esquece de um ponto!" – parte 2

Continuando meus relatos sobre a realização da oficina temática, nesse post gostaria de expressar sobre a oficina na escola da Penha realizada com uma turma da Educação de jovens e adultos (EJA) correspondente ao quarto/quinto ano do ensino fundamental,onde cerca de vinte alunos participaram.


Antes de começar a atividade, fiquei ansiosa pensando se eles iriam participar respondendo as perguntas, relatando situações, dando as suas opiniões, pois esse é o objetivo da oficina, estimular a participação, criar um ambiente em que a questão proposta seja debatida, dialogada e não meramente transmitida. Na minha mente minutos antes da entrada dos alunos, só passava ideias como “o que estou fazendo aqui”, “isso não vai dar certo”, “vou gaguejar”, mas assim que eles entraram na sala, é como se o nervosismo e ideias pessimistas tivessem “caído”, então veio a tranqüilidade e a empolgação de ter a oportunidade de realizar um trabalho como esse.




Parte da especificidade da modalidade EJA é a bagagem e a experiência de vida que eles possuem e essa especificidade é extremamente enriquecedora para quem atua ou realiza uma atividade com singulares alunos. Os relatos nos emocionam, nos fazem rir, chorar, gera em nós revolta, por que injustamente esses alunos foram prejudicados e por vezes talentos, potenciais foram desperdiçados por anos. Abro esse pequeno “parênteses”, falando sobre essa especificidade, porque tive não o fardo, mas o privilégio de estar a frente de uma oficina e dar suporte em mais três, e ainda fui “camerawoman” de uma delas!




Durante essas participações, incluindo a minha oficina pude constatar a ansiedade desses alunos em conhecer sobre essa diversidade,de terem a oportunidade de ver na cultura como um todo a valorização daquilo que eles sabem, do que eles conhecem. Acredito que as oficinas tenham sido uma das chances que tiveram de se verem como protagonistas, como sujeitos de sua própria história, podendo se identificar, sendo reconhecidos e respeitados pelo seu conhecimento de vida, pelo seu conhecimento de mundo. Ainda pude notar a curiosidade e as expressões de surpresa ao ser mostrado para eles algo que não conheciam e o diálogo sendo acalorado por dúvidas, relatos de vida, frases engraçadas, risos, sorrisos e olhares curiosos...



Com a relização das oficinas, vi a concretização de conexões. Interação,articulação e respeito a saberes que não são hierarquizados, mas diversificados. Cheguei naquela escola para falar sobre os contos afro-brasileiros, sobre a contribuição da matriz africana para o nosso país, saí dali recompensada por histórias de superação e por aprendizados de vida, e não se trata apenas de ser negro, mas de ser nordestino, de ser mulher, de ser idoso, de ser morador de comunidade carente, de não saber ler e escrever.




A realização das oficinas temáticas estão sendo primordiais para a minha formação enquanto profissional da educação, enquanto ser humano. Não quero estar em um embate de privilégios para negros por que sou negra e essa é a minha temática, estou no início da compreensão de um embate em busca de uma sociedade democrática para todos independente de cor, classe social ou nível de ensino.





Por mais que eu escreva, parece que sempre vai ficar faltando algo para escrever, portanto vou parando por aqui e aproveitando o espaço, quero fazer a propaganda para a terceira e última parte dos relatos da oficina, dessa vez em Comendador Soares, AGUARDE!











Luciana S. Silva







terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um Pouco Mais de Informação


O trabalho executado nesta segunda dia 17/09 na Escola Municipal
Antônio da Silva, no bairro de Comendador Soares, tinha o
objetivo de trazer de forma didática, oficinas temáticas com uma fala
sobre a obra de Abdias Nascimento. Os nossos focos principais foram
O Quilombismo(Livro) e o TEN(Grupo de teatro criado em 1944).

Vimos, na elaboração e na execução, o quanto é importante falarmos
de Racismo e outros tantos tipos de discriminação. Entrar em seu meio
com uma fala mais 'popular' foi uma das nossas estratégias. Reconhecem
a palavra 'RACISMO', citavam a mesma o tempo inteiro, fazia parte do
vocabulário de muitos em sala. Agora perceber, entender de fato como se
dá todo esse processo no meio social? Não possuiam respostas claras de
experiências únicas, eram exemplos de outros, que ouviam falar, brincadeiras
que faziam entre eles.

A busca por uma fala mais igualitária, trazida 'deles por eles', foi o que nos
marcou durante o processo de construção coletiva. Ao nos colocarmos como
atores de nossas histórias, viamos surgir neles um enorme desejo de protagonismo
social e profissional. Possuiam um entendimento do espaço escolar de forma
obrigatória, o que os faziam detestar(fala de alguns deles), faziamos
os entender que sem formação escolar as chances de ascensão profissional
diminuiriam e suas escolhas seriam limitadas.

A escola traz alguns desses discursos mas notamos o quão é necessário
um maior esclarecimento desses temas. Há uma carência de intervenções que
atentem para essas temáticas.


Hudson Batista.

domingo, 23 de outubro de 2011

Relatos da oficina: "Quem conta um conto... Se esquece de um ponto" - parte I

As oficinas temáticas, mais uma das atividades do PET/ Conexões de Saberes - Diversidade, foram realizadas nos meses de Setembro e Outubro por todos os integrantes do projeto nas respectivas escolas CIEP Gregório Bezerra localizado no bairro da Penha zona norte do Rio de Janeiro e no Colégio Antonio da Silva em Comendador Soares no Município de Nova Iguaçu.


Tivemos por objetivo levar ao conhecimento dos participantes um pouco mais das influências da matriz africana em nosso país, não apenas valorizando, mas respeitando tal contribuição e também numa iniciativa para que não se apague e muito menos se omita tamanha riqueza presente desde o início da construção de nossa sociedade até aos dias de nossa sociedade atual.


Bom, antes de expressar nesse espaço quais foram minhas impressões, expectativas, e claro, sobre os meus sentimentos (por que não?), vou tentar resumidamente explicar o porquê ter escolhido trabalhar com contos afro-brasileiros. Cada integrante do grupo PET/ Conexões de saberes- Diversidade teve a oportunidade de escolher qualquer tema desde que estivesse dentro da temática “diversidade” e não necessariamente trabalhar a questão do “negro”. Tive muita dificuldade em desenvolver o que eu queria, pensei em várias coisas, e ao mesmo tempo em nada, não foi uma atividade para pontuar como fácil ou difícil, mas simplesmente uma fase de aprendizado, foi mais um passo na nossa autonomia, pois foi nos dada à confiança de algo que não nos foi imposto, porém uma escolha dentre muitas que teríamos que fazer, teríamos que estudar o assunto e mais do que isso, realizar uma oficina sobre esse assunto.


Apesar de toda essa “complicação” inicial, de uma coisa eu já sabia: “Quero ressaltar a riqueza do negro, não sei exatamente de que forma ainda, mas é sobre esse tema que será a minha oficina”. A própria escolha de um objeto de pesquisa, foi de grande aprendizado para mim, no início admito que não estava entendendo o que era exatamente para ser feito, pois para se realizar uma atividade de “extensão” antes é necessário se realizar uma “pesquisa” e era essa indissociabilidade que eu não compreendia. “Ir para fora”, fazer extensão não significa ser algo inferior ou superior do que o ato científico da pesquisa, por mais que alguns façam essa hierarquia, posso com clara e inabalável certeza dizer que esta afirmação é equívoca, apesar de não reconhecida por muitos.


Compreender essa indissociabilidade de pesquisa e extensão, incluindo o ensino, completando assim esse “tripé”, digamos que tenha “clareado” a minha mente. Retornei a pensar novamente sobre assuntos para serem estudados, pesquisados e enfim realizados em forma de oficinas temáticas. Como “material” para nossa pesquisa, teríamos que buscar em nossa grade curricular da graduação uma disciplina na qual poderia ser trabalhada/refletida as relações raciais em suas diversas dimensões, durante o período de estruturação da oficina, estava no 3º período e tendo uma disciplina com o nome de “Educação e comunicação I”, onde entre outras coisas, a importância em se formar leitores e, portanto, estudando os diferentes gêneros textuais presentes na literatura, tais como lendas, fábulas e sim, os contos.



Fiz algumas “transações” com a professora da disciplina que me deu algumas dicas e me sugeriu ler Luís da Câmara Cascudo, um dos maiores estudiosos sobre a cultura brasileira e fui me encontrando nos contos, mas não nos contos em si, pensei no folclore, na cultura popular brasileira, só que é um assunto tenso e complexo. Acredito que meu grande equivoco ao falar sobre o tema foi não tê-lo estudado, o que eu fiz foi apenas “armazenar” conteúdos. Me apropriando das falas de Paulo Freire presentes no livro “Professora sim, tia não” (olho d’água , 1997) em que diz :



“Estudar é uma preparação para conhecer, é um exercício paciente e impaciente de quem, não pretendendo tudo de uma vez, luta para fazer a vez de conhecer”.



Reconheço que uma das minhas dificuldades foi a falta do “exercício paciente e impaciente”. O exercício da impaciência em busca de conhecer e compreender, e o exercício da paciência do não ter compreendido e assim ter que retornar, ler e pesquisar novamente para então ter propriedade do que se fala. Estudar nas palavras de Paulo Freire (1997), é uma ação que necessita ser trabalhada e forjada, sendo necessário ser persistente, e como dever de todo aquele que se engaja nessa tarefa é preciso estar instrumentado, estando disposto a aprender com o diferente e com o antagônico também.


Quando apresentei para o grupo a minha proposta, ainda não tinha compreendido essa visão do que é estudar, do que é conhecer, resultado, não foi uma boa apresentação além de se trabalhar folclore ter sido um tema não propenso. Resolvi iniciar tudo novamente, e com o exercício paciente e impaciente pude dar o "pontapé" inicial para conhecer sobre o que estou falando. Com a ajuda de colegas e dos instrumentos necessários (materiais, suportes de estudo) e com a devida orientação acadêmica, pude incrementar e definir a minha proposta."Ufa"! Ainda estou em processo, ainda há muito o que aprender!


Logo no início, disse que tentaria descrever resumidamente sobre como foi a escolha do tema e a estruturação para a oficina. Isso não foi o resumido que eu pensava... mas, resolvi dividir essa experiência em três partes, essa foi a parte I, na próxima eu descrevo como foi a realização da oficina na escola da Penha e por último em Comendador Soares.




Até breve!




Luciana S. Silva








segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A aula que me deram na Penha


A oficina realizada no Ciep Gregório Bezerra foi uma experiência gratificante, pois possibilitou que houvesse um aprendizado mutuo. O inicio de nossa troca de saberes se deu com o estranhamento entre duas formas de escrever poema, a rebuscada (português “bonito”) e a coloquial ( português popular). Nos questionamos de qual maneira seria a “correta” de escrever uma poesia de amor para que a temática do embranquecimento cultural fosse introduzida.
Não foi uma conversa fácil, pois temos engessado em nosso pensamento um aprendizado que privilegia uma cultura (a do colonizador) em detrimento das demais matrizes culturais de nossa nação brasileira. O foco da oficina não é a retirada da matriz lusitana, mas sim a afirmação de que temos em nossa formação cultural três culturas geradoras, sendo assim o aprendizado não deve se basear em uma ou outra e sim em todas.
As opiniões manifestadas foram interessantes e confesso que as mesmas deixaram o direcionamento da oficina um tanto quanto dificultoso, pois quando se faz um planejamento a expectativa criada é que tudo aconteça conforme o planejado. Contudo não foi isso que houve e acredito que esse seja o maior ganho de conhecimento proporcionado por esta experiência, o inesperado serve para que possamos reavaliar nossos posicionamentos, já que necessitamos da sensibilidade para percebermos as reações e informações que nos são dadas e assim refletirmos sobre outra forma de trocarmos conhecimentos sem imposições. Este é o grande desafio desconstruir a imagem do oficineiro como um detentor do saber e os demais como receptores do mesmo, ou seja, estabelecer uma relação horizontal em um espaço hierarquizante, como a sala de aula.
Trabalhamos com poesias de autores de diversos países do continente africano, com discussões em grupo para após compartilharmos com o coletivo. A interpretação das poesias foram ótimas, houveram resistências decorrentes da maneira escrita. Contudo as conclusões foram interessantes, pois o grupo estava aberto para a apresentação de algo novo e também depois de um tempo alguns se sentiram mais a vontade para exporem suas opiniões.
Conseguimos ao final desta experiência perceber que temos muito da cultura indígena e africana em nosso cotidiano. Nos mantivemos discutindo a influencia na escrita e concluímos coletivamente que, como disse um educando da EJA, “quem domina dá as regras do jogo”.

domingo, 16 de outubro de 2011

Articulação de saberes e enriquecimento com os textos no decorrer do ano.


Desde dezembro de 2010 quando iniciou-se os trabalhos dos Programas  PET/Conexões de Saberes – Diversidade, até o presente momento, discutimos diversos textos que tinham como ponto norteador a universidade e seus componentes, dando um novo olhar à sua estrutura antes total e indiscutivelmente elitista.
Hoje acredito que a “universidade” inicia um processo de transformação, procurando fazer reflexões não somente a cerca da universidade pública, mas como de certa forma o ensino superior e educação no Brasil.
Ainda são poucos os esforços, para a transformação desta universidade, mas pensa-la e discuti-la, como fazemos no PET/Conexões de Saberes – Diversidade, já indica que em alguns setores da mesma, há um incômodo sobre sua estrutura atual e para quê e quem ela está servindo.
Os esforços para modificação da educação são esforços tendo em vista que sem transforma-la não podemos pensar em modificar a sociedade perversa a qual vivemos, pois, é a partir dela que questionaremos as mazelas e discrepâncias vivenciadas com tanta passividade.
Concluo esta reflexão com uma frase do grande educador Paulo Freire.

“A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda.” (Paulo Freire).