Escrevo ainda encantada com o Seminário Internacional Histórias do pós-abolição no Mundo Atlântico, ocorrido no Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense, nos dias 14,15 e 16 de maio. Primeiro de tudo porque é inevitável o sentimento de admiração ao conhecer suas referências bibliográficas ao vivo e á cores.
A animação foi grande também por ver tanta gente trabalhando com o pós-abolição. Quanto a esse tema, é perceptível a marginalidade a qual ele é relegado na academia e perceber tanta gente pesquisando e produzindo nessa área foi instigante.
Quanto aos trabalhos, eram as temáticas mais diversificadas possíveis desde a odisseia de Rosalie no trabalho "Rosalie nação Poulard. Uma odisseia atlântica na era das emancipações" da Drª Rebeca Scott da University of Michigan até as interpretações feitas a cerca do marujo e suas características físicas entre os anos de 1890-1910 no trabalho "Corpo, cidadania e cor: Ser marujo no pós-abolição" da Drª Silvia Capanema da Université Paris 13-Nord.
Participar desse seminário abriu um leque de novos assuntos, conexões e referências que eu nem sabia que existiam. Essa exposição às mais diversas perspectivas trouxe consigo também a oportunidade de abrir a mente para outros pontos de vista acerca de assuntos que eu já conhecia.
Certo é que eu saí de lá com muita vontade de conhecer mais a todos os elementos interessantes que foram apresentados.
Falando agora sobre o que mais me impressionou posso citar primeiramente o trabalho da Drª Giovana Xavier da UFRJ, "Don´t Worry About Bad Skin": indústria cosmética, propaganda e cultura da beleza negra na pós-emancipação (EUA, 1917-1928)". Apontando uma tendência de usar os "bleachings" como saída a um problema social que representava ser uma "colored girl" naquele período.
Cito também o trabalho " A cidade vestiu-se de gala". As outras festas de maio de 1888" da Drª Renata Moraes da PUC- Rio. Esse trabalho deixou evidenciado algo que acabo me esquecendo às vezes, de que a visão de uma princesa Isabel não redentora que assinou a abolição respondendo a demanda emergente de um contexto político e social é uma construção feita a posteriori. Analisando essa abolição a luz das consequências que ela trouxe para uma maioria dos "homens de cor" que já se encontrava livre ou liberta é fácil esquecer o contexto da época no qual a princesa foi celebrada sim por assinar a lei em 13 de maio de 1888.
Por último cito os dois trabalhos sobre Lima Barreto apresentados no primeiro dia do seminário. "O literato da "Vila Quilombo": Lima Barreto no Brasil do pós-abolição", do Dr° Denilson Botelho da UFPI e "Os caminhos da negritude em Lima Barreto" da Drª Laiana Lannes de Oliveira, da Fundação Casa de Rui Barbosa. Esses trabalhos trouxeram questionamentos interessantes acerca da apropriação da imagem de Lima Barreto como uma espécie de mártir negro em contraposição a existência de manifestações racistas em seus diários. Além de trazer a tona e questionar a possibilidade de uma identidade partida: porque Lima Barreto por ser negro tinha necessariamente que desenvolver um perfil de identidade que fosse racializado, tornando esse conflito racial existente em seus diários uma "ruptura" de personalidade?
Essa foi apenas uma pequena parte das discussões acontecidas no seminário, os debates foram muito ricos e foi uma excelente oportunidade de aprendizado.